(“Dos sete pecados capitais, o ciúme é o mais perigoso.”)
Um
dos mais importantes e interessantes melodramas da história do cinema, também reconhecido como um clássico noir, é AMAR FOI MINHA RUÍNA (Leave Her to Heaven),
de 1945. Com Gene Tierney, Cornel Wilde, Jeanne Crain e Vincent Price. Do
diretor John M. Stahl.
Gene
Tierney foi uma atriz de uma beleza em grau superlativo. No entanto, teve uma
vida difícil e atribulada. Entre seus principais filmes estão Amar Foi Minha
Ruína, Laura, de Otto Preminger, O Fio da Navalha, de Edmund Goulding e A
Vingança de Frank James, de Fritz Lang.
Amar
Foi Minha Ruína é daqueles filmes que prendem nossa atenção e depois ficam em
nossa cabeça por um bom tempo. Ficamos com a impressão de ser um dos melhores
que já vimos. O que é verdade. É um filme sobre a beleza de Gene Tierney, tão
resplandecente que às vezes parecia uma boneca de porcelana, e o contraste com o ciúme doentio e amor possessivo de sua personagem. Dizem que o diabo
sempre aparece numa versão sedutora. Ellen Berent, personagem de Tierney, prova
a verdade da expressão popular.
Essa
estória é contada através de uma belíssima fotografia em cores vencedora do
Oscar, acompanhada pelas belas paisagens do Maine e Novo México. A atuação de Gene
Tierney e a caprichada direção de arte também foram indicadas para o prêmio da
Academia.
Richard
“Dick” Harlan (Cornel Wilde, um tanto quanto canastrão) passou dois anos na
prisão e é recebido pelo amigo advogado Glen Robie (Ray Collins), quando
regressa a Deer Lake, Maine, onde possui um chalé chamado Back of the Moon, à
beira de um lago em formato de lua crescente. Ao desembarcar da pequena lancha, no
trapiche do povoado, as pessoas ao redor não conseguem disfarçar olhares de
pena. Após Dick afastar-se em um bote na direção de sua morada, Glen relata a
um amigo o que levou aquele homem a tal situação e a história entre Dick e
Ellen (Gene Tierney) é contada em flashback. "Dos sete pecados capitais, o ciúme é o mais perigoso", assim
inicia Glen sua narrativa. "Eles se
conheceram por meu intermédio."
O
primeiro contato aconteceu no trem, sem saberem que estavam indo para o mesmo
destino. Ocorreu um jogo de sedução recíproco. Ele completamente fisgado por
aquela beleza irresistível; ela, impressionada pela semelhança que aquele
estranho tinha com seu falecido pai, com o qual era muito ligada.
Despediram-se
e ela desceu no povoado de Jacinto. Ele se deu conta que também era o seu ponto
final e desceu logo após. Glen Robie é um amigo em comum da família Berent e de
Richard Harlan. Estava recepcionando, na estação ferroviária, a viúva Berent e as
belas filhas Ruth (Jeanne Crain) e Ellen. Richard aproximou-se, surpreso por
reencontrar Ellen, e Glen fez as apresentações. "Nós nos conhecemos no trem. Brevemente", comentou Ellen. "Muito brevemente", respondeu Dick. Mal
sabia ele que estava escolhendo a irmã errada. Mas seria impossível ignorar a
beleza e charme da garota que encontrara no trem.
Glen
Robie explica para seu amigo que convidara Richard, escritor, para descansar no
seu rancho no Novo México, já que esse estava trabalhando em mais um livro. As
Berents, amigas da família, também convidadas, lá estavam porque iriam realizar
uma pequena cerimônia. As cinzas do pai falecido seriam espalhadas no alto de
uma montanha, num platô que era seu lugar favorito e onde ia muito com a filha
Ellen.
Ellen
era noiva de um promotor ambicioso, Russell Quinton (Vincent Price). Mas essa
circunstância não foi suficiente, nesses dias de convivência naquele ambiente
bucólico, para impedir que florescesse o romance entre ela e Dick e anunciassem
seu casamento ainda no Rancho Jacinto.
Quando
o casal se mudou para o chalé de Dick, no Maine, o amor possessivo de Ellen
começou a manifestar-se agressivamente, provocado pela presença do irmão pré-adolescente
de Dick, Danny (Darryl Hickman), vítima de paralisia, que morava com eles, bem como pela presença do
caseiro e até de sua própria família quando apareceu para visitá-los. Qualquer
um que pudesse se interpor entre ela e o marido.
Algumas
cenas do filme entraram para a história do cinema. Como a do afogamento do
irmão deficiente no lago, impressionante até hoje. E a cena da queda de Ellen
na escada, homenageada por Gilberto Braga, um dos fãs do filme, na novela Vale
Tudo, com Glória Pires protagonizando a sequência.
Reconhecemos
no comportamento de Ellen aquela irracionalidade feminina que atormenta os
maridos, que nós, homens, somos incapazes de compreender. Mas essa garota
virava o fio. Sua capacidade de alopração ia muito além da expectativa de Dick
e da nossa como plateia. E Gene Tierney arrasa como femme fatale, enlouquecendo
a todos nós, seja por sua beleza e sedução diabólicas, seja pelas linhas que
ultrapassa como anjo do inferno em momentos de puro terror, que nem a morte
pode evitar.
Amar
Foi Minha Ruína é um excelente filme. Desenvolve um estudo sobre uma mente
perturbada, tomada pelo ciúme e amor doentios, destruindo todos a sua volta e
criando uma das vilãs mais malévolas do cinema. Como testemunhou Dick sob
interrogatório no tribunal, quando tudo parecia estar perdido: "Ellen era capaz de tudo".