(“É o que Gino Marzzone bebe. Scotch. Glenlivet.”)

Existe
um complemento perfeito para nossas sessões de home cinema: o whisky. A melhor
bebida do mundo. Quem gosta sabe que não exagero.
Vivemos
tempos em que a ditadura de dietas da moda nos priva de pequenos prazeres e até
do convívio social. Pequenos prazeres como comer e beber bem. Acredito que com
moderação, aliada a hábitos saudáveis e alimentação balanceada, não precisamos
nos privar de nada. Podemos priorizar a satisfação e o prazer (com moderação,
bem entendido) ao invés da obsessão neurótica pela saúde perfeita, que por
sinal não existe.
Assim,
me sinto à vontade para fazer a apologia desta bebida que podemos chamar de
Néctar dos Deuses. O whisky, este líquido que aquece a garganta e preenche
nosso paladar de evocações de tabernas, carvalho, malte e uma gama de notas
sofisticadas e viris. Há momentos no nosso cotidiano em que o sabor deste
bálsamo nos reapruma, reconforta, relaxa ou simplesmente valoriza alguma
comemoração ou programa. Apreciar um bom whisky é um prazer indescritível!
Passei a me interessar por conhecer melhor esta nobre bebida. Encontrei um livro na Saraiva, certa vez: 100 WHISKIES DE SEMPRE. Folheava-o cada vez que ia lá mas não comprava. Esperava baixar o preço, o que nunca acontecia. Até que certa vez não o encontrei mais. Era o único exemplar! Perdi o livro!! Nem na internet encontrava! Esgotou-se!! Fiquei me enrolando, enrolando, e perdi o objeto do meu desejo! Mas não é que alguns meses depois, passeando em São Paulo, numa livraria dentro do Shopping JK, encontro o sonhado exemplar? O preço era bem salgado. Minha mulher teve que intervir ("Não deve estar esgotado! Este preço é muito caro!") e a contragosto não comprei, quando já estava a caminho do caixa. God!! Era minha chance!! Nunca mais! Mas a história não termina por aqui. Um mês depois, já em Porto Alegre, na Fnac...encontro o livro novamente! Por um quarto do valor em São Paulo. Não estou dizendo que as mulheres são mais espertas? Final feliz, hoje o sofrido exemplar enfeita minha sala de estar.
Existem outros bons livros sobre whiskies no mercado, alguns em inglês, mas este 100 Whiskies de Sempre traz matérias sobre as marcas mais conhecidas por nós, brasileiros. O original é espanhol, sendo esta versão em português lançada pela Editorial Estampa, de Lisboa.
Os whiskies dividem-se de maneira mais simples em: Single Malt (obtido através da cevada maltada e produzido por uma única destilaria); Single Grain ou whiskies de cereais (cevada mais a adição de algum outro tipo de cereal como milho, trigo ou centeio, uma destilaria); e o Blended (um ou mais Single Malts, com um ou mais Single Grains).
São
basicamente os Blended que encontramos no nosso mercado importador. Meus favoritos são dois: THE FAMOUS
GROUSE e o CUTTY SARK.
The Famous Grouse é um whisky saborosíssimo. De acordo com o livro “suaves e equilibrados, os maltes das Highlands imprimem-lhe uma certa corpulência, todavia temperada pelos whiskies de cereais que lhe conferem fluidez e leveza”. É o blended mais vendido na Escócia.
O Cutty Sark é outro excelente whisky. “Este é envelhecido em cascos que serviram anteriormente para xerez, e daí as leves notas de baunilha que é possível reconhecer na degustação." O Cutty Sark foi criado em 1923, na Escócia, para satisfazer o paladar do mercado americano, que prefere os scotchs mais ligeiros. Com o advento da Lei Seca, Francis Berry, um dos criadores da marca, continuou a fazer chegar clandestinamente, das Bahamas, grandes quantidades de whiskies ao solo americano, graças ao trabalho incansável do Capitão William McCoy. The real McCoy acabou virando uma expressão que autenticava a qualidade de um bom scotch. William McCoy transformou-se numa lenda, com seus carregamentos de rum e whisky, inovando com uma rede de barcos menores que encontravam seu navio fora das águas dos EUA e levavam os suprimentos para os speakeasis, os bares underground que serviam as bebidas ilegais. O Cutty Sark beneficiou-se dessa transgressão e ainda hoje, pela sua qualidade e história, é um scotch muito popular nos Estados Unidos.
Sou obrigado a citar um terceiro whisky, o single malt THE GLENLIVET. “Harmonioso na boca, de corpo firme e simultaneamente aveludado, o single malt produzido na destilaria de Glenlivet oferece ao paladar aromas de mel e de frutos (pêssego)." É possível encontrá-lo nos free shops.
A
razão de citá-lo neste post deve-se à sua qualidade excepcional e por ser um
personagem decisivo em um excelente filme de suspense, LIGADAS PELO DESEJO (Bound). Primeiro filme dirigido pelos Irmãos
Wachowski, de 1996, antes do sucesso de Matrix. Um policial noir envolvendo
gangsters, bebidas e mulheres fatais. Duas garotas que se apaixonam, Violet
(Jennifer Tilly) e Corky (Gina Gershon), planejam um golpe contra a máfia, para roubar US$ 2 milhões que estão com Ceasar (Joe Pantoliano), namorado de
Violet. Em momento chave da trama, de acordo com o plano que elaboraram, Violet
deve fingir que quebrou acidentalmente uma garrafa de Glenlivet, o único scotch
que o chefão Gino Marzzone bebe. Assim, terá que sair do apartamento apressadamente
para comprar outro Glenlivet, uma vez que Ceasar está esperando a chegada de
Gino Marzzone para entregar-lhe o tal dinheiro. Esse artifício dará chance para
Corky entrar escondida na residência, pela porta aberta por Violet e enquanto
Ceasar está no banho, e roubar os milhões da maleta do capanga da máfia. Só que
o plano não sai exatamente como esperado e Ceasar revela-se como o único
adversário à altura da dupla de amantes golpistas. Um filme que se espalha por
vários gêneros, sexy, inteligente, requintado, cheio de estilo, tensão, humor
pontual, bela fotografia, e com suspense do início ao fim, Bound é um
thriller de tirar o fôlego e um dos melhores a que já assisti.
Assistam a Bound acompanhados pelo seu whisky favorito. Bom divertimento.