(“Yabba-dabba-doo!”)
Para
minha geração, que viveu a infância nos anos 60 ou 70, os desenhos animados da
Hanna-Barbera são ícones atemporais. Eram desenhos de elaboração simples mas
extremamente divertidos, cativantes, carismáticos.
Passar
as tardes assistindo aos cartoons na TV era uma coisa mágica. Naquela época só
existia a TV aberta, não se precisava pagar TV a cabo para a criançada se
divertir com todos aqueles personagens, hoje clássicos. Como Pepe Legal, Dom
Pixote, Zé Colmeia, A Tartaruga Touchê, Olho Vivo e Faro Fino, Corrida
Maluca, Os Jetsons, Manda-Chuva, e entre tantos outros, o melhor de todos,
OS FLINTSTONES.
Até
hoje exibida nas TVs do mundo inteiro, Os Flintstones é a mais popular série da
história da animação, produzida de 1960 a 1966. O maior sucesso de William
Hanna e Joseph Barbera: 6 temporadas, 166 episódios, 300 milhões de
telespectadores em 80 países e dublado em 22 idiomas.
Foi
a primeira série de animação a contar uma história em meia hora (os cartoons anteriores
eram de curta duração) e a ser exibida em horário nobre, à noite. Inicialmente
foi pensada como um sitcom (situation comedy) para adultos, característica das
primeiras temporadas. Em 1961 foi indicada à premiação do Emmy como melhor comédia,
fato inédito na história das séries animadas, que só se repetiria em 2009 com a
indicação de Family Guy (Uma Família da Pesada). A gurizada também se
apaixonou pelo programa da família da Idade da Pedra e depois, principalmente
com a chegada de Pedrita e Bambam, incorporou de vez o público infantil.
Na
década de 60, Os Flintstones, assim como outros desenhos da Hanna-Barbera,
inclusive utilizavam recursos de uma incipiente técnica de computação gráfica,
em 2D, enriquecendo a tradicional “animação limitada” (os quadros não são
redesenhados inteiramente, mas em partes, gerando praticidade e economia),
marca registrada dessa produtora de tantos sucessos.
Uma
curiosidade: minha mulher e eu sempre preferimos assistir a filmes legendados,
nunca dublados, mas no caso dos Flintstones tivemos que abrir uma exceção.
Sentimos falta das vozes da dublagem brasileira (embora as originais fossem
semelhantes), fazem parte da nossa memória afetiva.
Legítima
comédia de costumes, Os Flintstones são os predecessores de Os Simpsons. A
abertura do desenho da turma de Homer e Bart é claramente inspirada na primeira
abertura dos Flintstones, até a trilha sonora é parecida. Uma bela homenagem de
Matt Groening, criador dos Simpsons, à família pré-histórica e sua divertida
sátira social. Como não reconhecer Fred Flintstone em Homer Simpson, autênticos
classe média, legítimos ordinary people? Assim como A Família Dinossauro,
outra ótima série infantil inspirada em Fred e sua turma, com a mesma verve de
humor social.
Os
apetrechos e engenhocas da Idade da Pedra e a ambientação de Bedrock são outros
achados engraçados e geniais dos desenhistas dos Flintstones.
Alguns
episódios da série, com suas gags divertidas, são antológicos. Fred e seu
vizinho Barney Rubble precisam engendrar um plano para poderem jogar boliche e
enganar Wilma e Betty, que querem a companhia deles na ópera. Ou quando Barney
vira o chefe de Fred. Outros episódios como o de Fred cantando jazz (“Essas músicas modernas não são melodiosas”);
Fred e Barney jogando golfe com um milionário, ocasião em que Fred pede ao
ricaço um emprego para Barney, e ao contar que o amigo precisa de dinheiro, provoca
o comentário do homem de negócios: “Já
ouvi falar de pessoas pobres, mas nunca pensei encontrar uma”.
Os
dois vizinhos vibrando com a folga das esposas que viajam por uma semana e, em
seguida, chorando de saudades. Noutro desenho, Fred com a culpa estampada em
sua cara, conforme Wilma, e o comentário de Barney: “Quando o cara põe uma aliança no dedo da esposa é ligado um radar que
revela a mente dele. Por isso elas nunca tiram a aliança”. Outros episódios
geniais como quando Fred e Barney resolvem largar seus empregos e abrir um
drive-in, as esposas descobrem, acabam com a festa e sentenciam: “Nunca esqueceremos”; ou quando Fred
comenta: “Passar roupa o dia inteiro
desperta o que há de pior numa mulher”.
Num
dos episódios mais engraçados, Barney é hipnotizado acidentalmente por Fred e
acredita que é um cão. Noutra história, um personagem, “Grande Imperial Puba”,
para salvar uma convenção, planeja recrutar as esposas dos participantes para
trabalharem nos serviços do hotel: “Em
casa eu não sou nada, mas na convenção sou o Grande e Augusto Puba Imperial. Eu
não peço, eu mando”, só que o plano não sai como imaginado, e nossos heróis
e o Grande e Augusto Puba são corridos do hotel.
Nossa
identificação com os desenhos é imediata. Reconhecemos e nos divertimos com
aquelas situações envolvendo maridos, esposas, amizades, brigas, pequenas
mentiras, empregos, carteiras vazias, contas, inadimplências, lazer, televisão,
esportes, liquidações, aspirações, sonhos, enfim, nossa vida cotidiana e nosso
comportamento classe média, satirizados num timing perfeito e irresistível, com
a simpatia peculiar desse clássico dos cartoons.
A
Warner disponibilizou no mercado belas edições em DVDs das temporadas da
família de Bedrock. Excelente programa. O humor e charme da série não envelheceram.
Mesmo com todo o avanço da animação, é incrível como ainda hoje Os
Flintstones são capazes de encantar crianças e adultos. Yabba-dabba-doo!!