domingo, 7 de agosto de 2016

OS FLINTSTONES

(“Yabba-dabba-doo!”)





Para minha geração, que viveu a infância nos anos 60 ou 70, os desenhos animados da Hanna-Barbera são ícones atemporais. Eram desenhos de elaboração simples mas extremamente divertidos, cativantes, carismáticos.

Passar as tardes assistindo aos cartoons na TV era uma coisa mágica. Naquela época só existia a TV aberta, não se precisava pagar TV a cabo para a criançada se divertir com todos aqueles personagens, hoje clássicos. Como Pepe Legal, Dom Pixote, Zé Colmeia, A Tartaruga Touchê, Olho Vivo e Faro Fino, Corrida Maluca, Os Jetsons, Manda-Chuva, e entre tantos outros, o melhor de todos, OS FLINTSTONES.

Até hoje exibida nas TVs do mundo inteiro, Os Flintstones é a mais popular série da história da animação, produzida de 1960 a 1966. O maior sucesso de William Hanna e Joseph Barbera: 6 temporadas, 166 episódios, 300 milhões de telespectadores em 80 países e dublado em 22 idiomas.

Foi a primeira série de animação a contar uma história em meia hora (os cartoons anteriores eram de curta duração) e a ser exibida em horário nobre, à noite. Inicialmente foi pensada como um sitcom (situation comedy) para adultos, característica das primeiras temporadas. Em 1961 foi indicada à premiação do Emmy como melhor comédia, fato inédito na história das séries animadas, que só se repetiria em 2009 com a indicação de Family Guy (Uma Família da Pesada). A gurizada também se apaixonou pelo programa da família da Idade da Pedra e depois, principalmente com a chegada de Pedrita e Bambam, incorporou de vez o público infantil.  

Na década de 60, Os Flintstones, assim como outros desenhos da Hanna-Barbera, inclusive utilizavam recursos de uma incipiente técnica de computação gráfica, em 2D, enriquecendo a tradicional “animação limitada” (os quadros não são redesenhados inteiramente, mas em partes, gerando praticidade e economia), marca registrada dessa produtora de tantos sucessos.

Uma curiosidade: minha mulher e eu sempre preferimos assistir a filmes legendados, nunca dublados, mas no caso dos Flintstones tivemos que abrir uma exceção. Sentimos falta das vozes da dublagem brasileira (embora as originais fossem semelhantes), fazem parte da nossa memória afetiva.

Legítima comédia de costumes, Os Flintstones são os predecessores de Os Simpsons. A abertura do desenho da turma de Homer e Bart é claramente inspirada na primeira abertura dos Flintstones, até a trilha sonora é parecida. Uma bela homenagem de Matt Groening, criador dos Simpsons, à família pré-histórica e sua divertida sátira social. Como não reconhecer Fred Flintstone em Homer Simpson, autênticos classe média, legítimos ordinary people? Assim como A Família Dinossauro, outra ótima série infantil inspirada em Fred e sua turma, com a mesma verve de humor social.

Os apetrechos e engenhocas da Idade da Pedra e a ambientação de Bedrock são outros achados engraçados e geniais dos desenhistas dos Flintstones.

Alguns episódios da série, com suas gags divertidas, são antológicos. Fred e seu vizinho Barney Rubble precisam engendrar um plano para poderem jogar boliche e enganar Wilma e Betty, que querem a companhia deles na ópera. Ou quando Barney vira o chefe de Fred. Outros episódios como o de Fred cantando jazz (“Essas músicas modernas não são melodiosas”); Fred e Barney jogando golfe com um milionário, ocasião em que Fred pede ao ricaço um emprego para Barney, e ao contar que o amigo precisa de dinheiro, provoca o comentário do homem de negócios: “Já ouvi falar de pessoas pobres, mas nunca pensei encontrar uma”.

Os dois vizinhos vibrando com a folga das esposas que viajam por uma semana e, em seguida, chorando de saudades. Noutro desenho, Fred com a culpa estampada em sua cara, conforme Wilma, e o comentário de Barney: “Quando o cara põe uma aliança no dedo da esposa é ligado um radar que revela a mente dele. Por isso elas nunca tiram a aliança”. Outros episódios geniais como quando Fred e Barney resolvem largar seus empregos e abrir um drive-in, as esposas descobrem, acabam com a festa e sentenciam: “Nunca esqueceremos”; ou quando Fred comenta: “Passar roupa o dia inteiro desperta o que há de pior numa mulher”.

Num dos episódios mais engraçados, Barney é hipnotizado acidentalmente por Fred e acredita que é um cão. Noutra história, um personagem, “Grande Imperial Puba”, para salvar uma convenção, planeja recrutar as esposas dos participantes para trabalharem nos serviços do hotel: “Em casa eu não sou nada, mas na convenção sou o Grande e Augusto Puba Imperial. Eu não peço, eu mando”, só que o plano não sai como imaginado, e nossos heróis e o Grande e Augusto Puba são corridos do hotel.

Nossa identificação com os desenhos é imediata. Reconhecemos e nos divertimos com aquelas situações envolvendo maridos, esposas, amizades, brigas, pequenas mentiras, empregos, carteiras vazias, contas, inadimplências, lazer, televisão, esportes, liquidações, aspirações, sonhos, enfim, nossa vida cotidiana e nosso comportamento classe média, satirizados num timing perfeito e irresistível, com a simpatia peculiar desse clássico dos cartoons.

A Warner disponibilizou no mercado belas edições em DVDs das temporadas da família de Bedrock. Excelente programa. O humor e charme da série não envelheceram. Mesmo com todo o avanço da animação, é incrível como ainda hoje Os Flintstones são capazes de encantar crianças e adultos. Yabba-dabba-doo!!