(“Esqueça o original. Consiga uma boa cópia.”)
O
mundo do cinema ficou um pouco mais órfão com a morte de Abbas Kiarostami, em
julho de 2016. Principal nome do cinema iraniano que invadiu o Ocidente a
partir da segunda metade dos anos oitenta, com sua temática sensível e
universal, Kiarostami é considerado um dos maiores diretores de todos os
tempos. A definição de Goddard é emblemática: “O cinema começou com D. W. Griffith e terminou com Abbas Kiarostami”.
Deixou
um legado composto por grandes clássicos, como Gosto de Cereja, Através das
Oliveiras, O Vento nos Levará, Close-Up, Onde Fica a Casa do Meu Amigo?, Dez e o extraordinário CÓPIA FIEL (Copie
Conforme), de 2010, coprodução França-Itália-Bélgica, com Juliette Binoche
e William Shimell, filmado no sudoeste da Toscana. Kiarostami, além da direção,
também é responsável pelo roteiro. A fotografia expressiva é de Luca Bigazzi.
Meu
interesse por Cópia Fiel foi renovado pelas conversas com meus amigos
arquitetos e cinéfilos, Paulo Cesa, fã do filme, Joca Petrucci e Renato
Menegotto. Em nossas discussões confirmávamos o que já havia sido escrito na
imprensa: cada vez que revíamos o filme surgiam sempre mais perguntas que
respostas. Cada possível interpretação que desenvolvíamos originava novos
questionamentos. Uma fábula instigante, bela e sutil sobre original e cópia, arte,
percepção, simplicidade, relacionamentos, incomunicabilidade, modernidade,
imagens, reflexos, ilusões e condição humana.
William
Shimell é James Miller, escritor britânico. Juliette Binoche é a proprietária francesa
de uma galeria de arte, cujo nome nunca é revelado. E o ator mirim Adrian
Moore é seu filho Julien.
Podemos
dividir o filme em quatro etapas narrativas, todas interligadas: James palestrando
sobre seu livro na Toscana; Juliette Binoche e o filho pré-adolescente; ela e
James conhecendo-se e ela e James como casal.
Na
palestra sobre seu livro, Copie Conforme, James Miller inicia comentando o
subtítulo provocativo que agregou a pedido dos editores: Esqueça o original. Consiga uma boa cópia. Simultânea à
referência do escritor ao subtítulo, a câmera apresenta a imagem de um menino
em pé a um canto, gesticulando para sua mãe, Binoche, sentada na primeira fila.
Aliás, tanto a mãe quanto o garoto tinham assentos reservados.
James
discorre sobre conceitos de originalidade e cópia. “Minha intenção era mostrar que uma cópia tem importância, que ela
remete ao original e atesta seu valor.” Comenta o tema em termos de
contextualização histórica e faz um paralelo com a reprodução humana. “Afinal, pode-se dizer que somos a réplica
do DNA dos nossos antepassados.”
O
tema cópia e original estará sempre presente em todo o transcorrer do filme,
mesmo que de forma velada.
Binoche
sai mais cedo da palestra porque o filho estava com fome, não parava quieto.
Caminha pelas ruas da cidade italiana sempre à frente do garoto, que a segue
jogando seu videogame. Ele, tranquilo; ela, impaciente. Uma das melhores cenas,
entre tantas ótimas, é o confronto bem-humorado entre o menino e sua mãe, numa
mesa de lanchonete. O garoto tira sarro dela, provocando-a por um bilhete que
deixou para o escritor e pela compra de várias cópias do livro (para serem
autografadas e dadas como presentes). “Sei
que gosta desse James e decidiu se apaixonar por ele, e deu seu número ao amigo
dele pra ele telefonar”. Ela explica que quer saber mais sobre o livro, mas
vai ficando irritada, enquanto o menino, que rouba essa cena, se diverte. Parece
que antecipa um evento que acontecerá mais tarde, ao questionar, rindo: “Por que não quis meu sobrenome na
dedicatória? Eu tenho um sobrenome, sabe?”
James
recebeu o bilhete. Uma das belas cenas do filme é o enquadramento do escritor na
escada entre as paredes antigas do subterrâneo italiano, entrada da loja de
antiguidades de Juliette Binoche. A câmera embaixo acompanhando a descida do
inglês. “Vejo que temos um interesse em
comum”, fala o escritor para a
anfitriã francesa, observando as peças da loja, cópias e originais. “É melhor manter um distanciamento. Elas são
atraentes mas podem lhe fazer mal. Podem ser perigosas à sua maneira. Eu as
estudo, as admiro, escrevo sobre elas, mas também mantenho meu distanciamento.”
O culto às imagens e suas ilusões na civilização
ocidental é um dos temas abordados por Kiarostami, bem exemplificado na
ambientação italiana.
Embora
a ação se passe na Itália, o filme é falado em três idiomas: italiano, francês
e inglês. O diálogo inicial entre a mãe e o filho é em francês; ela e James,
nesse início de contato, comunicam-se em inglês, a língua de James.
Ele
propõe a ela que saiam à rua, o dia está bonito. A francesa o convida para
embarcarem no carro dela e depois um passeio até o vilarejo de Lucignano. Ele
concorda mas faz a ressalva que deve voltar até às 21h para pegar o trem. No
trajeto discorrem sobre vários temas: sentido da existência, diversão, prazer, o
interesse pelo livro dele, arte, cópias e originais (“Jóias falsas são tão boas quanto as originais. Não precisa se
preocupar com elas”, Binoche cita sua irmã Marie), simplicidade (“Não é simples ser simples”, afirma
James; “Qual é o limite entre uma pessoa simples e uma mente
simples?”, pergunta ela; “A resposta
não é simples”, responde o escritor; ela comenta sobre a irmã: “É casada com o homem mais simples do mundo”).
Conta
que o marido da irmã é gago. Quando ele a chama Ma-ma-ma-ma-marie, para ela é
como uma canção de amor.
Num
trecho da estrada, entre as belas paisagens da Toscana, James observa: “Veja esses ciprestes. São bonitos. São
singulares. Você nunca vê dois ciprestes iguais. São árvores antigas. Me
disseram que existe um com mil anos de vida. Originalidade, beleza, idade,
funcionalidade. São as definições de uma obra de arte. Porém, eles não estão
numa galeria. Estão num campo, então ninguém presta atenção.” A discussão cópia versus original questiona os
conceitos da arte e a nossa própria percepção do objeto artístico.
Parecem
duas pessoas que estão se conhecendo, mas aos poucos o tom vai ficando mais
íntimo, ela demonstrando, às vezes, certa animosidade em relação a ele e
sendo sempre o contraponto às teorias do escritor.
Ao
chegarem em Lucignano e depararem com vários casais, de ternos e vestidos de
noiva, ela explica que eles vêm se casar ali porque acham que dá sorte, existe
uma árvore dourada onde juram fidelidade para sempre. “Você se casou aqui?”, pergunta James. Ela não responde, olha
rapidamente para ele e atende o celular que está chamando...
Conversa
ao telefone com a irmã, o filho está aloprando. Queixa-se de sua
irresponsabilidade. Reclama para James que ela é que lida com as consequências,
que paga por isso. James tenta defender o menino: “As crianças vivem para o momento, querem se divertir. Não pensam nas
consequências ou nos custos. Porque é parte do jogo, não é uma despesa.” Mas
não obtém a concordância da mãe.
Binoche
os conduz ao museu onde está exposta uma pintura que chamam de cópia original. “Descobriram que é uma cópia há 50 anos, mas
achavam que era um original por muitos séculos”, explica. De acordo com o
guia de uma excursão, em italiano, “nesse
caso, a cópia é tão bela quanto o original”. James não se mostra muito
entusiasmado. Conforme seu entendimento, os admiradores dizem o quanto adoram a
pintura mas sempre ressaltam que é uma cópia, cujo original está em outro
lugar. “Está em Herculano, isso é fato.
As pessoas precisam saber, não?”, questiona ela. “Por quê?”, retruca James. “Que
diferença faz? O original é uma reprodução da beleza da moça retratada. Ela é o
original. Mas, se você pensar assim, até a Mona Lisa é uma reprodução da
Gioconda. E aquele sorriso? Acha que é algo original, ou Leonardo pediu que ela
sorrisse assim?”
Voltam
às belas ruas do vilarejo.
-
Quer dizer que não há originais? – pergunta a francesa.
-
Não exatamente. Há muitos originais – responde o inglês.
-
Onde?
-
Se me der um café, eu conto.
-
Fica na esquina, estamos chegando. Então, onde está o seu original?
-
Na casa de sua irmã.
-
É mesmo? Na casa da minha irmã? Onde?
-
É o marido dela – responde James sorrindo.
-
Oh, come on...- irrita-se ela. (O marido da irmã é o “homem simples.”)
A
partir do momento que entram na cafeteria de uma senhora italiana, temos um
divisor de águas no filme. Algo que já se insinuava.
Sentados
numa mesa, enquanto esperam o café, Juliette Binoche refere-se ao comentário de
James sobre como surgiu a ideia do livro, na Piazza della Signora, em Florença.
James explica que lhe chamou a atenção uma conversa entre mãe e filho, na
praça, perto da estátua de David. A mãe dizia alguma coisa para o filho sobre a
estátua, em francês. Ela pergunta o que ele achou de especial nessas pessoas. O
inglês responde que naquela época, uns cinco anos atrás, estava em Florença
para uma conferência, mas todas as manhãs observava, de sua janela do hotel, a
mesma mulher descendo a rua. Ela chegava à esquina, parava, e olhava rua acima
até enxergar um garotinho de oito anos, sempre atrás. A mulher “sempre de braços cruzados, como você”,
comenta James. Quando se certificava que o garoto a seguia, continuava. O que o
fascinava era que eles nunca caminhavam juntos. Ela nunca esperava e o menino
nunca tentava alcançá-la. Mas naquela ocasião ele os vira juntos na praça pela
primeira vez. O garoto sentado perto da estátua de David por um longo tempo,
até a mãe se aproximar.
“Isso me parece familiar”, comenta Binoche, agora com lágrimas nos olhos,
transparecendo a emoção que aos poucos se manifestava à medida que James apresentava
sua história. Esse para um pouco, percebe a emoção de sua interlocutora e
entende o que está acontecendo. Pede desculpas meio sem jeito, não sabia. Ela
explica, “eu não estava bem naquela
época”.
Ele
ainda relata que a estátua é apenas uma cópia, o original está na Accademia,
mas a mãe não contou e “o garoto olhava a
estátua como se fosse uma genuína, original e autêntica obra de arte”. O
celular toca e James levantá-se para atendê-lo do lado de fora do café.
A
senhora que trabalha na cafeteria puxa assunto com a moça francesa. Conversam
em italiano. Acha que James é marido dela, que não desmente. Admira-se que ela
fala a língua dele, inglês, e ele não fala a dela. Binoche conta que está há
cinco anos na Itália, primeiro em Florença, depois em Arezzo e, incentivada
pela conversa, confidencia queixas contra o marido, que não lhe dá a devida
atenção, não se importa com ela (“Meu
marido faz a barba dia sim, dia não. O dia do nosso casamento foi de não fazer.”),
só pensa em si e no seu trabalho. A italiana, numa atitude conservadora ou
sábia, defende James e os homens: “Eles
não têm escolha. Para eles, não trabalhar é como não respirar, é impossível”.
James
retorna ao interior do café. A senhora comenta:
-
Estranho ele não falar italiano depois de cinco anos aqui com a sua família.
O
escritor não entende italiano e vira-se para a sua companhia.
-
Ela achou que você fosse meu marido. Eu não a corrigi – explica a francesa.
James,
num princípio de flerte, comenta:
-
Oh, really? Obviamente, fazemos um belo casal. O que acha? O que ela disse?
-
Ela está surpresa por você não falar italiano, já que sua mulher e filho vivem
aqui.
-
Não é totalmente culpa minha. Aprendi francês na escola. O que devo dizer
agora?
Ela
desconversa, mas é a partir dessa pergunta que James Miller passa a incorporar a
cópia fiel do marido de Binoche, algo que ela parecia desejar. Com relação à personagem seu
nome nunca fora pronunciado, e quando da dedicatória para o filho o sobrenome fora omitido, o que o menino percebera. De certa forma era como se ela tivesse a
premonição do papel de esposa do Sr. Miller. O jogo que se insinuava entre eles
agora será mais radical.
James
comete uma declaração infeliz, entrando no espírito do alter ego: “Minha família vive sua vida e eu vivo a
minha. Eles falam sua língua e eu falo a minha. Faz sentido, não?”
Ela
irrita-se enquanto saem do café. Atende o celular, já na rua, e censura o
filho. “É a cópia fiel do pai.” James
retruca um pouco depois: “Não é justo
você me dar o papel do pai ausente”.
Passam
a discutir como se fossem um casal. O que ela reclama do filho, irresponsável,
e ela a responsável, inverte em relação ao suposto companheiro. Critica-o por
trabalhar demais, ser responsável demais, e não viver junto a ela.
Questionamentos,
incomunicabilidade, idiossincrasias, intolerância, ilusões, realidade, a arte,
as diferenças, o masculino, o feminino, tudo isso passa a se manifestar em suas
interações. Mas também, aos poucos, o resgate do afeto, a atração, as belas
recordações.
Após
caminharem um pouco, já mais calma, ela conduz James ao local onde os casais,
devidamente trajados como noivos, todos cópias uns dos outros, nas vestes e nos
sonhos, tiram fotos e fazem as promessas de amor eterno junto à árvore
simbólica. Ela, comovida; ele, irritado com a ingenuidade, com as ilusões.
Na
praça onde fica uma estátua que ela admira (“Está
parecendo seu filho”, ele comenta lembrando-se de Florença), por entender
que seja um símbolo romântico e artístico (uma mulher repousa a cabeça no ombro
de um homem), James encontra-se mais tranquilo, senta ao lado dela na pequena
mureta que rodeia a fonte e passam a conversar em francês (ele falando a língua
dela, mostrando-se mais próximo). Mas continuam discordando, agora pelo teor da
escultura.
Em Cópia Fiel, muitas imagens são apresentadas em superfícies reflexivas (não é
o reflexo uma cópia da imagem original? nossas vidas são reflexos do que
poderia ser original?). Como na cena em que ele admira uma motocicleta, como se
quisesse dar o fora dali, flertasse com sua liberdade, e a imagem de Juliette
Binoche interagindo com os turistas, conversando sobre a estátua, aparece
refletida num espelho vertical e no retrovisor da moto.
Ela
puxa James para ouvir a opinião de um casal de italianos sobre a obra. O
senhor, num momento a sós com o inglês, passa-lhe um conselho: “Acho que a única coisa que ela pede é que
você caminhe ao lado dela e coloque a mão no seu ombro. É só o que ela espera.
Mas, para ela, é vital. Todos os seus problemas poderiam ser apagados com um
simples gesto. Faça esse gesto e liberte-se”. A caminho de um restaurante James
encosta a mão no ombro de sua acompanhante.
No
toilette do estabelecimento, na cena mais icônica do filme, em frente a um
espelho, ela passa batom nos lábios e enfeita-se com brincos. Embeleza-se para
ele. Mas basta um vinho ruim numa trattoria qualquer para reacender o pavio do
rancor e da intolerância. Discutem. Não se entendem. Agora, ele fala inglês,
ela fala francês.
Saem
do restaurante, ela caminhando na frente, ele atrás (como uma cópia dela e o
filho). Temos um belo enquadramento propiciado pelo olhar sensível de
Kiarostami, ambos chegando na igreja histórica e o contraste de escala entre
eles e o prédio. O poder do sagrado presente na transição do estado de espírito
do casal. Ela entra na igreja e ele espera do lado de fora. Estão calmos.
Quando saem, agora uma distância menor entre eles, Juliette Binoche inveja um
casal de velhos à frente, alquebrados e juntos.
Quando ele a alcança sentada nos degraus da entrada de uma pensione, voltam a
conversar em francês. Sobre a ida à igreja, sobre a indiferença dele ao não
reparar que ela se enfeitara: “O problema
é que você não me vê”. Ela, por sua vez, percebera que ele mudara de perfume. Repousa o rosto no ombro dele, tal qual a estátua da praça. “Podia ter feito a barba para mim hoje. Pelo nosso aniversário”, o repreende de
forma carinhosa. “É o hábito. Faço a
barba dia sim, dia não”, explica James (acentuando o tom de fábula,
constante no filme). “Eu sei”, ela
completa.
Entram
no pequeno hotel e James segue a francesa ao mesmo quarto da lua de mel. Ela
está na cama, olhando para ele. É o momento das recordações (“Deitada aqui, assim...eu me lembro de tudo.”);
da ternura esquecida (“Está ainda mais
bela”, flerta James); da reflexão (“Se
fôssemos mais tolerantes com as fraquezas alheias, seríamos menos sós”, conclui
ela); da tentativa de reconciliação (“Fique.
Fique. É melhor. Para nós dois, é melhor. Para você e para mim. Nos dê uma
chance”, é o convite dela).
-
Eu já lhe disse. Preciso estar na estação às 21h - responde James, com a voz
calma, retornando em parte à realidade.
-
Sim, eu sei... – ela concorda .
-
Ja-ja-ja-ja-james – entoa, triste, com ternura, aceitando a situação.
O personagem de James Miller, estereótipo do homem fechado em si mesmo, está sendo posto à prova. Ele
baixa um pouco a cabeça, devolve o olhar terno, levanta-se, e postado em frente
a um espelho, como a cena dela na trattoria, pensa um pouco (é tudo uma ilusão?
ou não?), os sinos da igreja badalam emoldurados pela janela, alisa o cabelo, e
depois de alguns instantes, como que impelido pelos sinos, retorna ao quarto...
Sutilezas,
questionamentos, discussões interessantes e maestria com a linguagem do cinema marcam
o tom da obra de Abbas Kiarostami. E grande parte do vigor do filme, como
componente vital, deve-se creditar à interpretação emotiva e sensível de
Juliette Binoche, premiada em Cannes por esse desempenho. Suas cenas em close,
contracenando com a câmera, são grandes momentos de magia cinematográfica.
A
riqueza de Cópia Fiel proporciona vários olhares diferenciados por quem
assiste, mas o importante é que a emoção e a beleza estão presentes com toda
sua força. Em cópia ou original.
Quando ele a alcança sentada nos degraus da entrada de uma pensione, voltam a conversar em francês. Sobre a ida à igreja, sobre a indiferença dele ao não reparar que ela se enfeitara: “O problema é que você não me vê”. Ela, por sua vez, percebera que ele mudara de perfume. Repousa o rosto no ombro dele, tal qual a estátua da praça. “Podia ter feito a barba para mim hoje. Pelo nosso aniversário”, o repreende de forma carinhosa. “É o hábito. Faço a barba dia sim, dia não”, explica James (acentuando o tom de fábula, constante no filme). “Eu sei”, ela completa.
O personagem de James Miller, estereótipo do homem fechado em si mesmo, está sendo posto à prova. Ele baixa um pouco a cabeça, devolve o olhar terno, levanta-se, e postado em frente a um espelho, como a cena dela na trattoria, pensa um pouco (é tudo uma ilusão? ou não?), os sinos da igreja badalam emoldurados pela janela, alisa o cabelo, e depois de alguns instantes, como que impelido pelos sinos, retorna ao quarto...