(“Estranho? Por eu ter compaixão pelos desamparados?”)
(“Não. É estranho por querer fazer algo a respeito.”)
AS AVENTURAS DE ROBIN HOOD, de 1938, com Errol Flynn e Olivia de Havilland, do
mesmo diretor de Casablanca, Michael Curtiz, traz aspectos muito interessantes.
Como a questão da tributação. No tempo de Robin Hood, na Idade Média, o povo sofria com impostos exorbitantes, chegava a passar fome, era maltratado e explorado. Robin Hood tirava dos ricos para dar aos pobres. Já nos dias de hoje, em nossos estados capitalistas contemporâneos, com a concentração de renda cada vez maior, muitas vezes temos a impressão que a tributação tira dos pobres para dar aos ricos (onde está o imposto progressivo sobre o capital?). Vivemos numa sociedade global cujos índices de concentração da riqueza aproximam-se cada vez mais de padrões antigos e medievais. Qualquer semelhança dos dias de hoje com a época de nosso herói parece não ser mera coincidência.
Outro aspecto é a luta contra a desigualdade e opressão. A mitologia de Robin Hood nasceu de antigas lendas reproduzidas oralmente. Em todas existe uma recorrência sobre a dupla faceta do personagem, ambas retratadas no filme: o justiceiro social que redistribuía a renda à margem da lei e o revolucionário empenhado em restabelecer a legitimidade do poder. Robin e seu bando lutavam para que o monarca justo e legítimo, Ricardo Coração de Leão, preso no exterior, recuperasse o trono usurpado pelo seu irmão, o tirano Príncipe João.
É esta versão para o cinema de 1938, baseada no fundamental das lendas antigas e criando sobre esse fundo, que praticamente definiu e fixou os paradigmas e referências que passaram a ser utilizados em quase todas as inúmeras versões que o cinema e a TV produziram sobre o personagem: a cena inicial da caçada ilegal, a luta com João Pequeno e o encontro com Frei Tuck, a destreza do herói com o arco e flecha, a emboscada disfarçada de torneio para arqueiros, o plano para salvar Robin, o romance com Lady Marian, o figurino colorido e o ritmo de aventura, principalmente, marcando a alta voltagem do entretenimento.
Até
mesmo a trilogia original de Star Wars recebeu influências desse clássico. O
ataque do bando de Robin às tropas do vilão Sir Guy de Gisbourne, na floresta
de Sherwood, e o duelo final de espadas entre o herói e o mesmo Sir Guy
encontram similitudes no ataque dos Ewoks aos Stormtroopers, em O Retorno do
Jedi, e no duelo final de sabres de luz entre Darth Vader e Luke
Skywalker.
Apesar de ser um filme sem os efeitos especiais de hoje, com outra estética, As Aventuras de Robin Hood ainda é um divertimento muito legal. Uma das maiores lendas sobre ideários de justiça, o herói fora da lei está muito bem representado nesse belo exemplar dos clássicos de aventura, com aquele sabor juvenil que quase não encontramos mais.