quinta-feira, 1 de outubro de 2015

ADVOGADO DO DIABO

(“Vaidade é, com certeza, meu pecado predileto.”)

                                                                                                                                                                                                                                                     
                                                         


ADVOGADO DO DIABO (The Devil’s Advocate) é um exemplo bem-sucedido de filme que combina dois gêneros, advogado e terror, e se torna clássico tanto de um gênero quanto do outro.

Convenhamos, Devil já teve um intérprete melhor que Al Pacino? Robert De Niro em Coração Satânico é candidato, mas é Al Pacino que confronta Deus, a plateia, o american way of life, e vira o mundo de Keanu Reeves e o nosso de cabeça para baixo. Tudo isso com uma interpretação irônica, histriônica, irresistível, e verdadeiramente diabólica. Assim como pensamos em Moses como Charlton Heston, aquele-que-não-se-deve-dizer-o-nome é Al Pacino.

Tentação, soberba, ambição e referências bíblicas permeiam o filme do início ao fim. Como cenário Nova York, símbolo do pecado. "A morada dos demônios", como dizia a mãe de Keanu Reeves, devota religiosa, o contraponto à perversidade sedutora de John Milton (Al Pacino), presidente de uma megaempresa de advocacia que opera no mundo inteiro.

Cenas memoráveis. Kevin Lomax (Keanu Reeves) é um advogado iniciante que se gaba de nunca ter perdido um caso. Sua apresentação a John Milton, quando está sendo recrutado pela firma deste, é uma dessas cenas. Numa clara alusão à tentação de Cristo no deserto, quando o Diabo O leva a um monte muito alto, John Milton conduz Kevin ao terraço do seu arranha-céu. Lá de cima, Nova York se estende ao longo da vista, ameaçadora e fascinante, com suas torres de vidro gigantescas, como estacas marcando território, cravadas em solo impuro ostentando riqueza e poder. Milton parece dizer ao jovem advogado: "Tudo isto será teu se me seguires."

Entre tantas outras cenas que prendem nossa respiração e retiram nosso fôlego, há que se destacar também, sem dúvida, o gran finale, o duelo definitivo entre Milton e Lomax, na grande sala do presidente da empresa.

Esse relembra o egoísmo de Kevin em relação à esposa, a bela Charlize Theron: “Você estava mais envolvido com outra pessoa. Você mesmo”. “Amor-próprio, a droga mais natural.” E a grande piada cósmica, no seu entender: “Deus dá instintos ao homem. Ele lhe dá esse extraordinário dom, e o que faz depois? Ele cria regras contrárias. Olhe, mas não toque. Toque, mas não prove. Prove. Não engula.” 

"Estamos negociando?", pergunta Milton. "Always", é a vez de Lomax responder, praticamente sem saída. O cerco sobre Kevin parece se fechar de forma irreversível.

Mas ele luta bravamente com a única arma que possui: o livre-arbítrio! 
("Livre-arbítrio é uma merda!", retrucava Milton.)

Ao final, noutro momento desse grande filme, quando parece que nosso herói (que é Kevin, o humano vítima das tentações) vai se safar, eis que ressurge John Milton, repetindo para todos nós:

Vaidade é, com certeza, meu pecado predileto.






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