quinta-feira, 29 de outubro de 2015

CASABLANCA

(“Você me acha desprezível? Então você é o único em quem eu confio.”)




Perdi a conta de quantas vezes assisti CASABLANCA (1942). Presença assídua nas listas de melhores de todos os tempos. Com toda justiça.

Casablanca é o clássico dos diálogos inesquecíveis.

Uma das primeiras cenas é a seguinte. Peter Lorre (Ugarte) para Humphrey Bogart (Rick), no Rick's Bar:
- Rick, você me acha desprezível?
- Se pensasse em você...acharia.
- Então você é o único em quem eu confio.

Tem mais. A amante esquecida, enfurecida, para Rick, no balcão do bar:
- Onde você estava ontem à noite, que não me procurou?
- Faz tanto tempo que nem me lembro.
- E hoje à noite, podemos nos encontrar?
- Nunca planejo nada com tanta antecedência.

Em outro momento, Rick provoca o Capitão Louis Renault (Claude Rains):
- Aposto vinte mil francos como a caçada a Victor Laszlo não terminará aqui.
O Capitão Renault responde:
- Deixemos por dez. Sou apenas um pobre oficial corrupto.


E há, claro, a célebre cena do aeroporto em que Ingrid Bergman (Ilsa) pergunta "o que será de nós?" e Bogart responde:
- Sempre teremos Paris.

Uma frase dessas já seria suficiente para elevar um filme à condição de clássico, mas Casablanca é muito mais.

O curioso em Casablanca é que, diferente de outros grandes clássicos do cinema, não nasceu da mente privilegiada de algum gênio. Por exemplo, A Doce Vida é fruto do gênio de Fellini, Reds é um trabalho primoroso de Warren Beatty, O Sétimo Selo é o talento de Bergman, Rastros de Ódio é a assinatura de John Ford. Já Casablanca tomou forma através de uma química rara e extremamente feliz do trabalho de vários artistas, não gênios, mas talentosos. O que poderia ser um simples melodrama transformou-se num filme inesquecível, graças a vários fatores (muitos acreditam que o acaso teve papel considerável) e à combinação perfeita entre eles, talento e carisma da dupla de protagonistas e dos atores coadjuvantes, todos nomes de peso, direção segura de Michael Curtiz, elogiada fotografia em preto e branco, a trilha sonora, a bela música tema (As Time Goes By), a cenografia, a estória exótica e fascinante misturando romance e ideais libertários, luta contra o nazismo (a cena da Marseilleise é emocionante – alguns críticos consideram a melhor interpretação do hino francês em toda a história do cinema), diálogos geniais dos roteiristas (os irmãos Epstein, Howard Koch e Casey Robinson), a montagem extraordinária de Owen Marks que conseguiu dar coerência a um todo multifacetado. E principalmente, reiterando, o magnetismo do par central: o carisma e charme de Humphrey Bogart e a beleza delicada e pensativa de Ingrid Bergman.   

Como dizia o grande Billy Wilder sobre o filme, "a riqueza de seus enquadramentos e ambiguidades oferecem tantos desdobramentos, que sempre, quando se volta a vê-lo, é como se o assistíssemos pela primeira vez".





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