(“Um favor mata mais rápido que uma bala.”)
Certos atores estão associados a uma série de clássicos inesquecíveis. É o caso deste filme com Al Pacino. Dirigido por Brian De Palma. A parceria desses dois
gênios do cinema americano, com a colaboração do produtor Martin Bregman, já
havia rendido o excelente Scarface, em 1983. Dez anos depois, em 1993, o trio
voltou a trabalhar junto e criou mais um grande filme de gângster, O PAGAMENTO FINAL (Carlito’s Way), um
dos melhores clássicos do gênero.
Este ótimo policial conta a luta
inglória de um anti-herói contra o Sistema que não lhe permite chance de
reabilitação.
Carlito Brigante (Al Pacino)
é um porto-riquenho recém-saído da prisão, após cumprir cinco anos de sua pena
por tráfico de drogas, atividade na qual era considerado um dos grandes
chefões. Quer se regenerar. Não quer mais seguir a vida de crimes. Numa das
cenas iniciais, comemorando sua liberdade com o amigo advogado David (Sean Penn,
em grande atuação) e conversando na danceteria onde estão se divertindo, este
lhe pergunta o que fará a seguir. O advogado não acredita no papo de
regeneração, mas poderia lhe conseguir um emprego, gerente numa boate onde
investiu seu dinheiro. Carlito não quer aceitar, quer vida nova, mas David
insiste: "Você pode considerar como um
favor entre amigos." Carlito precisa ser mais enfático:
"Nada de favores. Um favor mata mais rápido que uma
bala."
Não queria mais ligações com
as referências antigas. Noutra cena, em que sua paciência é posta à prova,
reflete: "Os velhos instintos estão
voltando. Mas não quero matar ninguém mesmo que ainda deva. Não sou mais
assim."
A verdade é que Carlito não
consegue se libertar de seu passado, mesmo que queira. Quando as coisas começam
a se complicar novamente, aceita trabalhar no night club, na condição de sócio,
para juntar dinheiro e mudar-se para as Bahamas com sua amada Gail (Penelope
Ann Miller), onde um amigo lhe espera com uma parceria num negócio honesto. Mas
não é possível para ele livrar-se do contexto de criminalidade que está a sua
volta ("A rua está de olho. O tempo todo de olho."), como nativo de um bairro hispânico no Harlem, onde a luta pela
sobrevivência passa ao largo das boas maneiras dos bairros abastados.
O talento do diretor Brian
De Palma ajuda a contar a cruzada de Carlito em busca de redenção de uma
maneira envolvente mas também sensível, graças em muito à atuação contida e
humana de Al Pacino.
Nas cenas de suspense e
ação, principalmente, onde o diretor imprime sua marca registrada, o
virtuosismo de Brian De Palma confere brilho e energia à estória do
determinado porto-riquenho. A ótima trilha sonora criando o clima de suspense,
a câmera acompanhando a movimentação dos vários personagens, como peças de um
jogo de xadrez coreografado, onde a plasticidade dos movimentos irromperá em
cenas violentas. A perseguição na estação de trens, filmada num único movimento
de câmera, seguida pela cena nas escadas rolantes são sequências espetaculares
e um dos grandes momentos da história do cinema. De Palma repete sua técnica empolgante,
puxando a lembrança da cena antológica da escadaria em Os Intocáveis.
Nas cenas sensíveis seu
talento também se faz presente, como quando Carlito e Gail flertam entre a fresta
de uma porta semiaberta, segura apenas por uma pequena corrente que não
resistirá à sedução que passa dos closes nos semblantes para o reflexo do corpo
seminu de Gail num espelho estratégico.
Os cenários e a fotografia
também são pontos altos. O Pagamento Final é um grande filme policial do tipo
que quase não se vê mais. Representa, sem dúvida, uma realização marcante do
cinema americano.
É impossível não se comover
com a sinceridade de Carlito e sua luta contra a realidade que o agride. Mas a
sociedade é um jogo de cartas marcadas. Não há redenção possível para o
ex-presidiário. A criminalidade lhe persegue por todos os lados. Está
instituída pelo próprio sistema de diferenciação de classes, pela distribuição
de renda desigual e apelo da fortuna fácil pela via criminosa, atalho para as
benesses reservadas para poucos. Nesse cenário não há esperança de migração dos
guetos palcos de uma luta sem glória e sem futuro para o paraíso imaginário das
Bahamas.
Certos atores estão associados a uma série de clássicos inesquecíveis. É o caso deste filme com Al Pacino. Dirigido por Brian De Palma. A parceria desses dois
gênios do cinema americano, com a colaboração do produtor Martin Bregman, já
havia rendido o excelente Scarface, em 1983. Dez anos depois, em 1993, o trio
voltou a trabalhar junto e criou mais um grande filme de gângster, O PAGAMENTO FINAL (Carlito’s Way), um
dos melhores clássicos do gênero.
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